segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Digno de um tempo

Precisava de um tempo que não mais guardasse azuis
Um profundo tudo que engolisse seco a bobina do tempo
E ousasse gritar com seu pesar o seu amargo sabor
Virando a giros o pêndulo da razão.

Encostado na esquina de uma zona suburbana
Girando o pêndulo para que não perdesse a hora
A hora é agora, não sou mais um
Nem sou único
Sou um único a mais no meio da multidão.

Resgato a tempo o que sobrou ali
A tempo de que o pendulo não varra a dose de solidão que restou
Será o tempo digno de mais um verso prosador?
Será eu o seu humilde ingênuo contador?

O assombro do não saber e de não sentir o pulsar de um segundo
Sei que passa em minha frente um caminhante perdido
De olhos inseguros e fronte pesarosa.

Escoa na razão aquelas últimas gotas das chuvas caudalosas do tempo.
Saber que não sou o único,
Nem sou mais um no meio da multidão.

O grito do pavor e o hediondo crime do tempo contra a razão
Que de tanto girar sentiu-se vazio.
“era melhor se fosse um tempo linear”...

Engulo seco o sentido das palavras.
É tudo profundo, eco sonoro de solidão.
Repito no verso um tempo digno de poeta.
No mais, nada.