quarta-feira, 24 de outubro de 2018



Dia III

Duas semanas sem a rede
fiquei toda virtual,
a realidade me pegou de jeito,
afetou a mente, o desapego e o gestual.
O sorriso se tornou duro,
meus braços doentes de desabraço,
a boca de um agir bem imaturo,
o coração ferido num vazio espaço.
Entre ameaças infligidas,
e resoluções sem cabimento,
Pensei eu, bem aturdida:
Como faço para manter discernimento?
O silêncio às vezes é arma forte,
muito mais que as armas de um general,
mas contudo sei que por trás da morte
sempre há a renascença, num sentido nada literal.
Resistência é não se permitir deixar,
sentir repúdio, ou qualquer sentimento dolente,
que fere, entope, todos os sentidos ardentes...
Seguir firme naquilo que acredita,
abraçar o distinto, a minoria.
Sim, ter as mãos e a cabeça erguida,
continuar no desfecho de cada dia pensando,
o trabalho da arte acreditando,
os ouvidos muitas vezes reclamando...
Mas o que eu tenho de mais profundo,
é o que dorme em mim e desperta num segundo,
É o olhar profundo da compreensão,
de que nem todos dormem infecundos
a semente que planta nascerá,
num destino desatado de viver,
na aventura do pra sempre resistir,
Em mim este suspiro não morrerá!
Seguimos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Noite II - Diário que não quer ser, não crescer....


Hesito em escrever. É triste retirar de um casulo bem ordenado, ideias caóticas,  que se espalham como ramos ao longo do dia. Estes ramos penetram em algumas profundezas,  se alimentam de memória. Sobre cada capítulo da vida retiro um ar consciente que me coloca em prontidão.
Percebo que dentre todos os meus pensamentos, um paira solto; um não, dois. O primeiro se trata de perceber que o racional, o que parece lógico, humano, profundamente humano, se esvai quando percebemos que tudo que rege o aqui e agora são forças antagônicas, que se parecem com cavalos desgovernados, que possuem a natureza da obediência, mas não sabem se educar sem um estalar do manuseio forte. O segundo pensamento me mostra que crescer, ser adulto, é como folha desgarrada da árvore, que se encontra perdida e levada por outros ventos, ou ainda como uma incoerência de uma chuva que não arrebenta pra refrescar.
Todos os dias tenho acordado com a sensação dolorida daqueles que sofrem, ou que por ventura irão sofrer, tentando aceitar amargamente o curso que a razão toma diante dos  misteriosos caminhos que tomamos sem saber que estávamos seguindo.
É insuportável assistir o definhar da razão,  dia a dia, gota a gota, tanto no pensamento externo quanto naquilo que  me cabe sentir.
Adormecerei novamente sentindo a luz apagada roçar meus braços, o pensamento atingir uma estranha e inesperada calma. É muito significante sentir uma insignificante confusão.  Nada mais parece importar.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Noite de Melancolia I

Democracia  e rede social

O destino cruel refaz seus passos
engenhoso, porém absorto
cisão inconsequente da superfície das coisas
Tremendo a diante, o chão das certezas se abre calado,
de dentro do abismo, nenhuma voz,
nenhum insignificante eco ressoa
porque a incompletude se regozija satisfeita
o outro não é nada mais do que aquele ser veloz
que se pronuncia,
jogando aos quatro ventos sete raios de incompreensão

E ainda é impressionante como há beleza nisso tudo.

No recomeçar diante do abismo
No rever diante ao nada
profunda função sem funcionalidade
que nada significa
e tudo se compreende nessa linguagem.

Sinto-me um elástico de sensações
uma pausa de abstinência
significativo ser insignificante nesse momento.


domingo, 10 de junho de 2018


Percepción

Ruas, esteiras cinzas onde correm pessoas, 
rios de lava alma, 
dejetos desígnios de um ser corrente que passa
todos passam, 
ligeiramente sóbrios e identificados, 
na janela arguta de um edifício a ruir
Não me encontro, 
e minhas veias não estão abertas, 
as paredes estão manchadas
ecos de edifícios com mil camadas a dentro
Que hacemos hoy?
Com nossos filhos, com uma terra sem promessa, 
sem chão e sem mar, 
sem ter por onde ir, porque talvez queira mesmo ficar, 
Um sabor amargo de frutas que crescem pedindo espaço.
Um poeta na estante, 
sim,"aquele que escreve poemas", não os outros, as estátuas e monumentos , 
mas os poetas, por onde eles andam?
Pelos muros mulheres, impressas numa tinta sem rastro. Quem são elas?
Escolho este momento, pois ele é único 
ele é cheio daquela vida que existe em mim, 
numa pausa incomoda, 
num olhar verdadeiro, 
num cansaço real numa terra distante, em qualquer uma, naquela outra que se chama meu lugar.


Asunción. 08/06/2018