Quando se escreve numa tenra idade, não nos importamos exatamente com as casualidades, as sutilezas e os impropérios da vida. Tudo se passa num impulso irregular, numa constante busca por uma identidade carregada, não estamos preocupados com o peso da carga no burro velho. No entanto, quando se é vivido há mais tempo, tudo passa a não fazer o menor sentido. E nisso tudo sempre há um sentido escondido, pronto para nos surpreender como lagartixa atrás da porta. Na verdade, quando comecei a escrever, não queria dizer nada disso. Queria falar sobre o vazio, que dias antes, aprendi que possui um sentido completamente distinto do que nosso pobre e oco cerebelo ocidental nos faz crer. Os orientais acreditam que o vazio (ou Ma), o “espaço negativo”, entendido como o intervalo entre duas coisas que existem materialmente; um vão, um intervalo, uma pausa - ou como diz o gracioso YouTuber que me explicou o conceito é “uma ausência que permite que algo se manifeste através dela”. Nem preciso dizer o quanto isso espantou a cabeça de poeta que vive aqui dentro. Tenho muita tendência a pensar sobre o nada, sobre a falta, a ausência, a insuficiência...ou ainda ao deslocamento no aqui e agora de todos os sentidos que a vida humana pode te dar, num milissegundo em que você se sente como um grande expectador de uma grande cena, longe e distante do seu poder de tocá-las com as mãos ou com os olhos. Fazendo um grande salto com a realidade de hoje - hoje, hoje mesmo - mas que acabei de perceber que já é amanhã (00h02) - posso perceber o quanto de significado há neste grande vazio de tempo exaurido pelas manifestações carnavalescas. Muito longe de julgar ou apontar dedos a tradicional festança, pois isso eu fazia quando era muito jovem e o burro ainda não se importava com o equilíbrio dos pesos - percebo que o sentido implícito, mais do que o sentido social, antropológico ou cultural, está na pausa que se faz neste período do ano. Bom, meus sentidos não querem se aprofundar nesta discussão, pois novamente, isso não nasceu pra ser um texto acadêmico. No entanto, posso perceber que há algo de novo neste carnaval de 2019, pelo que bem me parece, todos, digo - TODOS mesmo, até os improváveis, os mal-humorados e amargos, os que dão com seus burros n’água, os que deixam o burro andar leve ou os que já inclinaram o burro a uma merecida pausa, estão a festejar, normalmente muito brilhantes e ofuscantes. Há um fenômeno muito escondido, prestes a ser descoberto pelos pensadores do futuro sobre o carnaval nesta era apocalíptica que estamos vivendo. Apocalipses à parte, gostaria de dizer que eu envelheci, mas o vazio que me permite observar o quão somos distantes uns dos outros, permanece.