domingo, 15 de março de 2015

Feminina

Os desprezos do corpo que vem a orla,

São empurrados pela maré de ventania que sopra leve entre nossas pernas,
Já maduras ou cansadas, vistas para que servem.
Queria escrever um poema em prosa,
Mas que! prosa alegre, nunca derrama uma lágrima, como deve ser.
Prosa fina, reconta e inventa, mas não chega a doer.
Do que falo aqui é da dor,
Do imenso buraco que cresce sem que possamos ver.
Finge que é tudo e nada e desmaia ao pesar longo do tempo passando.
Sobrevoando pequenos pensamentos soltos numa janela imaginada,
Dá-se pequena, encontra o mundo e volta, sem nada trazer junto.
Não ganha nem perde, apenas se troca, fazendo intercâmbios com a ponta do ar.
Esmiúça a solidão de ser, genericamente, uma só, intercalando faz-de-conta e sutilezas.
Queria escrever um poema em prosa...
Mas que! Prosa alegre, nunca deve ser derramada, isso só a poesia pode.
Mas pra ela, não tem que ser alegre.
Tem que ser firme.
Só eu sou poeta, mais ninguém.
É isto que afirma a mágoa, o chão, a cama, a janela e o olhar.
É isto que afirma a delicadeza de um trovão, ou a brutalidade de uma flor.
Finjas que sou leve, final feliz de todo história sintética.
Mas de histórias benditas já estou cheia,
Não sou mais do que um puro paladar que degusta cheiros e cores,
Adivinhando qual será a tempestade de amanhã, que arrancará meus dias de glória e acabará com todo o traço de história.
Isto está se tornando uma prosa.
Não posso deixar acontecer!
Volta-se em círculos, rodando, sutil à sua imagem.
Sabendo o limite da leveza e o peso da coragem.
Queria escrever um poema em prosa,
Mas acho que a mulher é isto mesmo.
Uma prosa que derrama, pedindo permissão para a poesia para derramar.
Uma poesia que sintetiza, pedindo permissão para a prosa para se contar.

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