terça-feira, 27 de agosto de 2013

Gentis serpentes

Gentis serpentes chegam pra anunciar o dia
Rabisco a fundo o papel gasto,
Tentando deixar uma marca infalível
No presente do tempo, num futuro nefasto.

Entendo que o presente não pode ser mais que isto
Um bicho curvado, uma raposa astuta
Matreira, adentra o mato
Se esconde pra não ser vista!

Deixo de lado o passado obscuro
Ao mesmo tempo em que navego no verbo presente
Sentir, doer, estar consciente
De tudo aquilo que me nego de fato

A negação de tudo,
pronta pra dominar a cena
Acena, tal qual viúva
De um esposo que ora findado
Ocupa espaço no armário fundo.

Gentil criado
Que recolheu os meus cacos
Vê lá se não sobrou um apenas,
reluzindo atrás da porta ou no vão das gavetas.

Recolha-o, calado.
Não perguntes nada, apenas traga-o,
Quando estiver de olhos nele
Saberei o que fazer com este pedaço que me falta.


* Inspirado em parte no poema de Álvaro de Campos "A minha alma partiu-se"http://www.citador.pt/poemas/a-minha-alma-partiuse-alvaro-de-camposbrbheteronimo-de-fernando-pessoa


Um comentário:

  1. Deixo de lado o passado obscuro
    Ao mesmo tempo em que navego no verbo presente
    Sentir, doer, estar consciente
    De tudo aquilo que me nego de fato

    <3

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