segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Desaniversário

Espiando aquele fio de dia que resta
percebo que desaniversariei todos os dias
Num encontro casual com cada manhã
Pensei a sós; vão-se os anos, ficam as cavernas...

Um desaniversário desigual tomou conta de mim
Todas as noites
em que recebia o presente das estrelas
e a conta do porvir...

Desaniversariei todos os dias cantando
Melodias chorosas ou alegres canções,
Brindando com o tempo
o desgaste do coração cansado.

Desaniversários diários me consumiram tanto!
Agora entendo porque comemorar
um único dia de anos...

Sentei-me à mesa servida de cenas.
Escolhi uma delas, pra me entreter.
Todas elas pareciam desaniversariadas,
de anos que não se passaram, de vidas passadas.

Num instante percebi a nitidez da forma
Tão clara, espaçosa e aconchegante...
Foi se acomodando em mim
Uma sensação de anos!
Um eu maior,
desaniversariado e gigante
Uma juventude presente,
Uma sensação permanente
364 dias, desaniversariando...



Inspiração: http://www.youtube.com/watch?v=ggGMAEm6wM0

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Um passo adiante do fim II

De verdade, não me sinto!
Desde que olhei pra trás
Um passo e me desfaço
Sigo seca, guerra e paz.

Os meus olhos são dois viajantes
De uma imensidão desejada
Um risco, fosco no ar
Um mar comprimido, cansada.

Dê uma trégua à imensidão
Que ela vem nos calar assim
Com sua boca insinuante
E sua fantasia de cetim

Se encobre pelo limite
Aquele que você forjou conhecer
Que pôs um mundo na mão do seu mundo
E tirou-lhe, por não merecer.

Visto a vida que não me serve
Aquele vestido de vida passada
Véu tão pronto, vida e retalho
Daquela imensidão encomendada.

Troco errado, cores errantes
Um desejo de avesso em mim
Um nublado, nuvem passante
Não sei me sentir tanto assim.

Vejo de que nada adiantou
Nada adianta, na dianteira
Tudo agora em febre restou
De uma sensação passageira.


É o fim.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um passo adiante do fim

Descobri que escrevo através de sons.
Escrever de ouvido, tática bem-vinda
quando os olhos não estão bem para sentir.

Desde aquele passo,
calado na avenida muda,
penso em mudar radicalmente o rumo do barco
apontar em outra direção
a regência do maestro surdo.
Encontrar descompassado
Aquele ser senso de outrora.

Marcha lenta, coração apressado,
caminhar num corre,
estrada sem fim.
Sentada ao contrário, vejo o passado,
choques anti-horário,
invertida sensação de mim.

Sou aquele animal aterrado,
que se farta da água numa imensa terra planada,
achatada, tola e inerte,
que assiste por quem passa,
os passos descompassados.

Sou aquela que não sentiu -
no caminho contrário do trem -
o vento que urdia na pele,
o tempo de um temporal longínquo,
Pois o olhar mudo
não estava pronto para sentir.

Sou aquele quadro inacabado
que permitiu uma explosão intacta,
mas logo depois recebeu uma chuva de pinceladas vazias,
Brancas,
Aturdidas,
Num mover descompassado das mãos...

Um passo adiante do fim, 
que se olhado ao inverso
É um começo de sensação.
E um começo não é nada, 
mas já aponta radicalmente
para aquele avesso de mim,
que sempre me soou tão bem...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O sonho

Me levem de volta para o sonho,
que lá, a névoa fina e frágil,
despertou sentidos nunca antes sentidos.
Me levem de volta para a realidade de outro plano
Lá dormi um sono profundo
e assisti o despertar inverso.
O sonho que não me quer mais,
parece que me abandona, à margem dos meus erros.
Impiedosa sombra que paira,
sobre os anos a desandar,
a passos largos, num futuro passado.
Parca sensação de infinitude
De transver, não poder rever
Não ter como voltar atrás...
Esta do sonho de abrigar uma plenitude
Ainda me levará para um lugar além.
Além de mim,
transvendo você,
sou capaz de tudo
do outro lado,
Que não sou eu,
Nem nada, nem o céu.
Nem aquilo que brotou das minhas mãos.
O sonho foi se encontrando no caminho
criou vida, se refez.
Me tomou pela mão.
Voltei a sonhar.