segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É poesia na certa

Era pra ser companhia mas é só solidão.
Era um dia findando na noite em vão.
Era o olhar sereno que acalma as vozes da multidão.
Era para ser eterno, mar aberto, calado, nos dando a mão.

Confuso, eu me faço em prantos, nesta canção.
Não tem mais nada de perto, deserto, teto no chão.
Mas todo o ar que respiro vem de um acorde, que está preso, num arranhão
De uma harmonia bem solta, leve e pronta, amarrada, em uma ilusão.

Sei que você não existe além daqui, 
dentro desta noite escura.
Sei que o mundo lá fora, espera acanhado, 
uma explosão segura.

De nossas faces tocando, 
uma a outra assim.
De uma palavra veludo, 
agitando o profundo, alma sem fim.

É poesia na certa que nos move, 
sangrando, vida atroz!
De onde vi um cenário, de um aquário,
naufrágio, de um mar em nós.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tempo sentido

Se finda o fim,
Tudo se vai,
a um fio de hora
a nunca acabar.

Um tempo sentido
de olhar dolente
disfarça sua fronte
contra a febre ardente.

Tudo se vai
na mesma insignificância
que a alma alcança
ao se despertar sozinha...

E tudo se vai
como numa dança
em movimentos lentos
e eterna esperança...

Os sentidos se vão
num esvair corrente
extirpando a dor,
reluzindo o ausente.

O tempo medido
já não me consola
seguindo sua linha
O som me assola.

O barulho do silêncio interno
mais uma vez dentro de mim,
Me mostra consciente,
Que este amor nunca vai ter fim.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Jogo dos imprevistos

Seis de ouros
posto à mesa,
nenhuma carta vazia.
Numa sequencia entediada,
tudo certo, como dois e dois são cinco.
Cinco pontas, uma espada.
Jogo dados, empate confuso.
Empatado está,
toda minha empreitada!
Arrastando a cadeira dos imprevistos,
Blasfêmia!
Blefando!
Confundem-se as palavras...
E as atitudes, num corpo imóvel
Jogo este que não sei mais jogar.
Distribuem-se as cartas, de novo,
Vazias...
como se trocasse seis por meia dúzia.
Significado oculto por entre elas,
Jogo místico!
Palavras, números?
Cálculo razoável?
Muitas perguntas.
Escondo, rainha de copas.
E ela vai esconder-se, com seu manto,
atrás do meu sofá.
Esconda todas as cartas.
Não me deixe mais jogar.
Deslizando sobre o tabuleiro infinito
meu coração não encontra lugar.


*tentei evitar que ele aparecesse neste poesia. Perdi.

sábado, 14 de setembro de 2013

Este grande tema que é o nada

Fecho os olhos diante deste poente vazio,
à espera de algo ou alguém que possa me ajudar...
Sou equilibrista do vento,
a ventania me atravessa e tira o barco do prumo
São brancas névoas a navegar.

Finjo saber quem sou
como num monólogo tedioso,
espelho refletindo a dúvida e a incerteza
de uma alma que não é plena
de vibrantes cores diluídas
num poente de estar só profundo.

Espero um aceno
uma palavra, um gesto monocromático.
Que culpa tenho eu de esperar toda desbotada?
O nó na garganta ou o nó da gravata,
podem estar presentes
mesmo que na fantasia.


O medo do tempo me assola
Perco-me na invasão da solidão em mim.
Não há problemas, porque me habito por todos os lados
Sou eu, que me moro,
Me apavoro,
Me enamoro.
deste grande tema que é o nada.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um desinteresse de tudo

Um desinteresse de tudo me assola
que fiz eu para estar neste mundo?
Tudo que ouço não passa de metáfora
da vida afora, que não esvazia nunca...
Significados! Vi meu mundo parar por um segundo
nas mãos do dicionário, tentei encaixar aquilo que me amola
Que me apavora,
Que não demora,
 a chegar de novo e conter
este suspiro inevitável de cheganças e partidas,
esta dor de não possuir o impossuível
Este não lugar de tudo que me rodeia.
O gosto do vento forte e da maré esverdeada,
anuncia um novo tempo de amores
Será mais uma inspiração sem finalidade?
Inconsequência da natureza?
Porque dizer tem lá as suas benéfices.
Sair da garganta desinteressado,
e encontrar um coração sobressaltado.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Movimento sinestésico

I
Ora clamo, ora insano
ora busco o improvável.
O dia tem pose de maiúscula
À noite, meu bem, eu me calo.

Um pulo, desalento,
num quadrado um retorno sem fim,
Verás e talvez descubras,
O que está estancado em mim.

Ouço conversas, observo inquieta
Sou eu a falar-me mais do que a boca pode?
Sou eu que escuto o silêncio inútil?
Espero estouros, palavras, gritos?

II
De uma rua então vazia,
olho para os dois lados.
Automóveis que passam
Arredios, quarteirões.
Imaginação.

III
Tentar mergulhar no risco?
Um risco subterrâneo,
que nasce nas entranhas de uma galáxia.
Retoma sua forma em estranhas estrelas pontiagudas.
Tudo aquilo que é debaixo
Não pode estar no universo.
Puxa-me com uma sonda,
e tudo aquilo que submerge,
Emerge,
Objeto frio, sentimento,
A arrancar-se do coração.
Devagar.

Quem se nega a cobri-lo de terra,
quando não se colhe dele nem um grão?
De onde nasce o olhar da sombra
da terra perdida na imensidão?

IV
De repente a poesia se tornou laranja,
Finquei os pés, súbita agonia,
De quem não se mostra e se imagina
coberta de razão, temendo a luz do dia.
                                        
Me atiro na água fria,
Congelada, dos recantos do meu pensamento
Onde um barco desgovernado
Explora os recantos de um alagamento.

Daquilo que restou.
Tiro a última palavra.
Palavra.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lua cheia de mim

A lua está meio inacabada,
olhos na direção, desejo de se esconder.
A lua está meio inacabada,
olhos na perdição tentando se esconder.
A lembrança da lua já se perdeu
restou o espaço que ela ocupara ontem,
restou o vazio da sombra projetada,
restou a alma vazia e apressada.
O sumiço da lua provoca o frescor.
o sumiço da alma provoca o indefinido.
o sumiço do coração apenas provoca.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vida criativa

Vida criativa
“Duvido de você!”
e te sinto sempre tão presente
formada por retalhos coloridos,
estampada no riso medonho
ou nos olhos de um riacho.

No único dia que você não chegou
o calendário passou mal
perdeu o tempo sentido
se viu cabisbaixo,
sem hora pra passar.

Deixou-se levar pelo vento,
afogou-se em minutos adiantados
Passou, despercebido
Pelo “estar” que estava ao lado.

Deu de topa com o relógio
desmarcado e inconseqüente,
que avisou-lhe, irrisório:
O tempo é pra não ser previdente!

A vida criativa
passou em pulos
em direção ao chafariz.
Ninguém a viu! não percebeu?
Arrebatadora cortina enfim, desceu!

Não me previna! Não me siga!
Não sei onde vou parar!
Eu só sei que, de onde estou
Não tenho hora pra chegar!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Cárcere

Fui até o fim de uma dor pungente
e hoje crio-a dentro de mim
como uma obra ordinária e lúcida.
E ela tem o dever de me mostrar o infinito que é conhecer a si mesmo.

Desta boca obstinada em dar uma sentença para o coração,
saem palavras que se rasgam de tanto saber,
se tornam rígidas -
dão a punição adequada para o meu querer saber demais.

As algemas desta teia enferrujada pelas linhas do tempo,
que teceram nas horas o seu passar e pesar quase absoluto,
são algemas que te prendem junto ao cárcere criado por ti
e que só existem quando pensas que podem elas existir.

Com a fé religiosa de um abade criminoso,
com a engenhosidade de um cientista desprevinido,
com a loucura de um insano curado,
procuras por tua fé, tua engenhosidade e tua loucura
e acharás todas elas, presas no cárcere que criastes.
Mandastes escolher "a dedo" os objetos que o compõe
e trancastes a sete chaves as portas que nem existiam.