quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


Conexão inútil com o escuro


Descobri que quero a noite pra mim
Um escuro que me adormeça de olhos abertos
Não quero mais ter que esperar por um alívio sorrateiro
Que nunca vem.

Viajo pelos 365 dias, como se fosse antes,
E hoje, já é um amanhã vazio.
Vertigem da maré que resolveu sair pelos olhos.

Não se mobilize pelo meu pesar,
Pesa que estes meus olhos não sejam os teus.
Pesa-me sobre todo o corpo.
Suas manhãs marejadas que não tiveram motivo pra nascer.

Luz sobrescrita nas telas de um jardim
Espasmos silenciosos de planta que desabrocha e não nasce.
Qual será o som que resvala de suas entranhas?

Simplesmente o caos.
O barulho da intromissão dos atos nos acontecimentos.
Acontecendo, impede de agirmos.

Tuas palavras finas e grossas,
Soam como um chacoalhar de sementes num campo parvo,
Inútil, infértil.

Conexão inútil com o escuro.
Viestes me defender do improvável em mim.
Sempre apareces sorrateira,
Para que eu nunca mais deixe de fechar os olhos ao adormecer.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013


Espera

 Voltamos ao objetivo principal:
o seio de tudo
largo e obtuso
Volta em um círculo de pontas abissais.
Me segurará na superfície hoje?
Ou morrerá pra mim, como as notas que escuto nesta cavidade automática?
Conte-me uma história
Com baixos caminhantes para lugar nenhum...
Apronte-me uma elegia como esta que está prestes a acabar...
a cada segundo que passa.

Retorno a tradição de um pensamento matriz?
Sou eu a desvendar-me diante de todas as coisas do mundo?
O tema se repete e parece não se conter
Contador de histórias...
adeus...
A morte das minhas palavras será tão certa como a morte das suas idéias sonoras.

Mas compartilhamos de um mesmo roteiro, adequado ao nosso viver!

Passam-se os anos e não compensa mais nascer.
Houve um tempo pra isso, pra nascer.
Houve um tempo que a nota pedal restava vagarosa
Sutilezas sobre o contínuo?
Invenção matemática de um torpor?
Luz sobressaltada de harmonias inconclusas?
Houve um tempo em que tudo era necessário.
E hoje, nada mais é que cores vagantes, perdidas.
Mesmo assim insistimos em nascer!
Não nos damos por perdidos.
Restam as polifonias de nossas vozes internas.
Ambiente obscuro
De uma espera
Que não se perde em esperar.
Esperar significa, muitas vezes, transver.
Contar cada tempo como uma experiência atemporal.
não sei mais o que digo!
Só sei sobre aquilo que espero. 



Ao som de "Goodbye Storyteller" - Brad Mehldau - Elegiac Cycle

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Entremeios

Escape de todas as formas rígidas.
Nos entremeios acontece a vida.
Forma indefinida de uma centelha perdida
em meio a uma urbe cheia de alardes.
Inconstante contato que se ganha,
 ao largar as formas previsíveis de se propagar
- por aí - num tempo que não parece ter fim,
quando se põe a olhar com os olhos do profundo.
Entre segundos certeiros profetizo um tempo perdido
Perco-me na imensidão do nada sentido.
Sentir-me nada e tudo, é o que sinto
quando estou presa – nos entremeios
- que é onde acontece a vida.
Centelhas de vida recaem sobre os espaços vazios.
Percebo isso hoje, como que por um milagre,
que dura a contagem de uma lembrança,
Que é a vida...
Que aconteceu nos entremeios do meu dia.

domingo, 17 de novembro de 2013

Laranja

Sensação de não pertencimento
Paciente sentido obscuro
Diante do sol poente
Fecho os olhos para o infinito de mim.

Tudo o que vejo a volta
são olhos desvirtuados
Sentidos canalizados
Num mar de puro cetim

Sou ânsia, desejo e vontade
Desequilibrando numa pedra fria.
Um tempo escorrente
apontando para o alcance de uma nuvem.

Fria sensação
Olhos mareados, marejados.
Balançando contra o vento
Não se depositam nem na memória,
 nem no derramar alaranjado.

Um laranja de céu,
Enquanto eu sempre pensei que fosse terra.
É bom que seja assim,
De modo que a cor esteja fora de mim
E tão dentro da eternidade...

Serei eu sempre a pedra?
E o triste poente no mar?
Olhos negros, jovens, serenos
Pele, rosto, sensação e fim?

Não sinto o que sinto
Nem sei o que sou
Num segundo, viver é como um gosto forte de bebida quente,
Amarga, doce sensação de prazer temporário
Despregado das águas alaranjadas...

Começou com um poente
Um desapego afagado em mim.
Termina com uma cadência incompleta
Um acorde soando sem fim.

Tema e desenvolvimento
Caos e perturbação
Avalanche, estar ausente
Do chamado coração.

Pedi eu para estar aqui?
Não, só pedi para ser aqui.
Não está sendo suficiente.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Latente (aquilo que não se manifesta por fora)

Estou com uma urgência latente,
não sei se é de dentro ou de fora.
Dívida, estarei sempre atrasada
naquilo que ao coração cabe dizer.
Deixarei que algumas lembranças me embalem nesta noite,
Pois sei que de onde estás nada mais há pra colher.
Mas sei que o teu dizer calado sussura ao pé do ouvido do vento
E chega até aqui.
Uma urgência de palavras, sacia a sede da noite.
desprenderei desavisada do pensamento pulsante
desavisando o coração de que ele, nada sabia.
Desprendendo minha alma da tua
Chegarei num lugar tão sozinha
que só a sua sombra me acompanhará.
Entretanto, a urgência continuará lá.
Irresoluta e inconfidente
traindo-nos a todos,
pulsando tua alma na minha
de modo que não haverá dia, nem tempo, nem lugar.
Dentro da noite suspirarão estrelas
Quando esta dívida acabar.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Tem poesia que não pode existir


Não, não posso escrever hoje.
Avante mais uma noite,
segura aquilo que te move
seja a paixão ensandecida
ou a sombra escancarada da tua alma.

Tem palavras que simplesmente não podem ser.
Não há como ser, menos assim -
Que seus sentidos mais profundos...
Não há como ser menos!
Elas se perdem
Se escritas;
Perdem todos aqueles sentidos não ditos.

Não, isto não...
Não despejarei encantamentos sonoros mais uma vez,
de qualquer jeito.
Pois o que eu quero dizer, de tão soturno dentro de mim,
não se extrai com um simples amanhecer.

Tem poesia que simplesmente não pode existir,
Não pode aparecer
Desaparecer
Em alguns versos banais...

Ver a poesia
Às vezes é diferente de escrevê-la.
Eu vejo.
E quando vejo me transbordo.







segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Desaniversário

Espiando aquele fio de dia que resta
percebo que desaniversariei todos os dias
Num encontro casual com cada manhã
Pensei a sós; vão-se os anos, ficam as cavernas...

Um desaniversário desigual tomou conta de mim
Todas as noites
em que recebia o presente das estrelas
e a conta do porvir...

Desaniversariei todos os dias cantando
Melodias chorosas ou alegres canções,
Brindando com o tempo
o desgaste do coração cansado.

Desaniversários diários me consumiram tanto!
Agora entendo porque comemorar
um único dia de anos...

Sentei-me à mesa servida de cenas.
Escolhi uma delas, pra me entreter.
Todas elas pareciam desaniversariadas,
de anos que não se passaram, de vidas passadas.

Num instante percebi a nitidez da forma
Tão clara, espaçosa e aconchegante...
Foi se acomodando em mim
Uma sensação de anos!
Um eu maior,
desaniversariado e gigante
Uma juventude presente,
Uma sensação permanente
364 dias, desaniversariando...



Inspiração: http://www.youtube.com/watch?v=ggGMAEm6wM0

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Um passo adiante do fim II

De verdade, não me sinto!
Desde que olhei pra trás
Um passo e me desfaço
Sigo seca, guerra e paz.

Os meus olhos são dois viajantes
De uma imensidão desejada
Um risco, fosco no ar
Um mar comprimido, cansada.

Dê uma trégua à imensidão
Que ela vem nos calar assim
Com sua boca insinuante
E sua fantasia de cetim

Se encobre pelo limite
Aquele que você forjou conhecer
Que pôs um mundo na mão do seu mundo
E tirou-lhe, por não merecer.

Visto a vida que não me serve
Aquele vestido de vida passada
Véu tão pronto, vida e retalho
Daquela imensidão encomendada.

Troco errado, cores errantes
Um desejo de avesso em mim
Um nublado, nuvem passante
Não sei me sentir tanto assim.

Vejo de que nada adiantou
Nada adianta, na dianteira
Tudo agora em febre restou
De uma sensação passageira.


É o fim.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um passo adiante do fim

Descobri que escrevo através de sons.
Escrever de ouvido, tática bem-vinda
quando os olhos não estão bem para sentir.

Desde aquele passo,
calado na avenida muda,
penso em mudar radicalmente o rumo do barco
apontar em outra direção
a regência do maestro surdo.
Encontrar descompassado
Aquele ser senso de outrora.

Marcha lenta, coração apressado,
caminhar num corre,
estrada sem fim.
Sentada ao contrário, vejo o passado,
choques anti-horário,
invertida sensação de mim.

Sou aquele animal aterrado,
que se farta da água numa imensa terra planada,
achatada, tola e inerte,
que assiste por quem passa,
os passos descompassados.

Sou aquela que não sentiu -
no caminho contrário do trem -
o vento que urdia na pele,
o tempo de um temporal longínquo,
Pois o olhar mudo
não estava pronto para sentir.

Sou aquele quadro inacabado
que permitiu uma explosão intacta,
mas logo depois recebeu uma chuva de pinceladas vazias,
Brancas,
Aturdidas,
Num mover descompassado das mãos...

Um passo adiante do fim, 
que se olhado ao inverso
É um começo de sensação.
E um começo não é nada, 
mas já aponta radicalmente
para aquele avesso de mim,
que sempre me soou tão bem...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O sonho

Me levem de volta para o sonho,
que lá, a névoa fina e frágil,
despertou sentidos nunca antes sentidos.
Me levem de volta para a realidade de outro plano
Lá dormi um sono profundo
e assisti o despertar inverso.
O sonho que não me quer mais,
parece que me abandona, à margem dos meus erros.
Impiedosa sombra que paira,
sobre os anos a desandar,
a passos largos, num futuro passado.
Parca sensação de infinitude
De transver, não poder rever
Não ter como voltar atrás...
Esta do sonho de abrigar uma plenitude
Ainda me levará para um lugar além.
Além de mim,
transvendo você,
sou capaz de tudo
do outro lado,
Que não sou eu,
Nem nada, nem o céu.
Nem aquilo que brotou das minhas mãos.
O sonho foi se encontrando no caminho
criou vida, se refez.
Me tomou pela mão.
Voltei a sonhar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É poesia na certa

Era pra ser companhia mas é só solidão.
Era um dia findando na noite em vão.
Era o olhar sereno que acalma as vozes da multidão.
Era para ser eterno, mar aberto, calado, nos dando a mão.

Confuso, eu me faço em prantos, nesta canção.
Não tem mais nada de perto, deserto, teto no chão.
Mas todo o ar que respiro vem de um acorde, que está preso, num arranhão
De uma harmonia bem solta, leve e pronta, amarrada, em uma ilusão.

Sei que você não existe além daqui, 
dentro desta noite escura.
Sei que o mundo lá fora, espera acanhado, 
uma explosão segura.

De nossas faces tocando, 
uma a outra assim.
De uma palavra veludo, 
agitando o profundo, alma sem fim.

É poesia na certa que nos move, 
sangrando, vida atroz!
De onde vi um cenário, de um aquário,
naufrágio, de um mar em nós.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tempo sentido

Se finda o fim,
Tudo se vai,
a um fio de hora
a nunca acabar.

Um tempo sentido
de olhar dolente
disfarça sua fronte
contra a febre ardente.

Tudo se vai
na mesma insignificância
que a alma alcança
ao se despertar sozinha...

E tudo se vai
como numa dança
em movimentos lentos
e eterna esperança...

Os sentidos se vão
num esvair corrente
extirpando a dor,
reluzindo o ausente.

O tempo medido
já não me consola
seguindo sua linha
O som me assola.

O barulho do silêncio interno
mais uma vez dentro de mim,
Me mostra consciente,
Que este amor nunca vai ter fim.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Jogo dos imprevistos

Seis de ouros
posto à mesa,
nenhuma carta vazia.
Numa sequencia entediada,
tudo certo, como dois e dois são cinco.
Cinco pontas, uma espada.
Jogo dados, empate confuso.
Empatado está,
toda minha empreitada!
Arrastando a cadeira dos imprevistos,
Blasfêmia!
Blefando!
Confundem-se as palavras...
E as atitudes, num corpo imóvel
Jogo este que não sei mais jogar.
Distribuem-se as cartas, de novo,
Vazias...
como se trocasse seis por meia dúzia.
Significado oculto por entre elas,
Jogo místico!
Palavras, números?
Cálculo razoável?
Muitas perguntas.
Escondo, rainha de copas.
E ela vai esconder-se, com seu manto,
atrás do meu sofá.
Esconda todas as cartas.
Não me deixe mais jogar.
Deslizando sobre o tabuleiro infinito
meu coração não encontra lugar.


*tentei evitar que ele aparecesse neste poesia. Perdi.

sábado, 14 de setembro de 2013

Este grande tema que é o nada

Fecho os olhos diante deste poente vazio,
à espera de algo ou alguém que possa me ajudar...
Sou equilibrista do vento,
a ventania me atravessa e tira o barco do prumo
São brancas névoas a navegar.

Finjo saber quem sou
como num monólogo tedioso,
espelho refletindo a dúvida e a incerteza
de uma alma que não é plena
de vibrantes cores diluídas
num poente de estar só profundo.

Espero um aceno
uma palavra, um gesto monocromático.
Que culpa tenho eu de esperar toda desbotada?
O nó na garganta ou o nó da gravata,
podem estar presentes
mesmo que na fantasia.


O medo do tempo me assola
Perco-me na invasão da solidão em mim.
Não há problemas, porque me habito por todos os lados
Sou eu, que me moro,
Me apavoro,
Me enamoro.
deste grande tema que é o nada.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um desinteresse de tudo

Um desinteresse de tudo me assola
que fiz eu para estar neste mundo?
Tudo que ouço não passa de metáfora
da vida afora, que não esvazia nunca...
Significados! Vi meu mundo parar por um segundo
nas mãos do dicionário, tentei encaixar aquilo que me amola
Que me apavora,
Que não demora,
 a chegar de novo e conter
este suspiro inevitável de cheganças e partidas,
esta dor de não possuir o impossuível
Este não lugar de tudo que me rodeia.
O gosto do vento forte e da maré esverdeada,
anuncia um novo tempo de amores
Será mais uma inspiração sem finalidade?
Inconsequência da natureza?
Porque dizer tem lá as suas benéfices.
Sair da garganta desinteressado,
e encontrar um coração sobressaltado.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Movimento sinestésico

I
Ora clamo, ora insano
ora busco o improvável.
O dia tem pose de maiúscula
À noite, meu bem, eu me calo.

Um pulo, desalento,
num quadrado um retorno sem fim,
Verás e talvez descubras,
O que está estancado em mim.

Ouço conversas, observo inquieta
Sou eu a falar-me mais do que a boca pode?
Sou eu que escuto o silêncio inútil?
Espero estouros, palavras, gritos?

II
De uma rua então vazia,
olho para os dois lados.
Automóveis que passam
Arredios, quarteirões.
Imaginação.

III
Tentar mergulhar no risco?
Um risco subterrâneo,
que nasce nas entranhas de uma galáxia.
Retoma sua forma em estranhas estrelas pontiagudas.
Tudo aquilo que é debaixo
Não pode estar no universo.
Puxa-me com uma sonda,
e tudo aquilo que submerge,
Emerge,
Objeto frio, sentimento,
A arrancar-se do coração.
Devagar.

Quem se nega a cobri-lo de terra,
quando não se colhe dele nem um grão?
De onde nasce o olhar da sombra
da terra perdida na imensidão?

IV
De repente a poesia se tornou laranja,
Finquei os pés, súbita agonia,
De quem não se mostra e se imagina
coberta de razão, temendo a luz do dia.
                                        
Me atiro na água fria,
Congelada, dos recantos do meu pensamento
Onde um barco desgovernado
Explora os recantos de um alagamento.

Daquilo que restou.
Tiro a última palavra.
Palavra.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lua cheia de mim

A lua está meio inacabada,
olhos na direção, desejo de se esconder.
A lua está meio inacabada,
olhos na perdição tentando se esconder.
A lembrança da lua já se perdeu
restou o espaço que ela ocupara ontem,
restou o vazio da sombra projetada,
restou a alma vazia e apressada.
O sumiço da lua provoca o frescor.
o sumiço da alma provoca o indefinido.
o sumiço do coração apenas provoca.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vida criativa

Vida criativa
“Duvido de você!”
e te sinto sempre tão presente
formada por retalhos coloridos,
estampada no riso medonho
ou nos olhos de um riacho.

No único dia que você não chegou
o calendário passou mal
perdeu o tempo sentido
se viu cabisbaixo,
sem hora pra passar.

Deixou-se levar pelo vento,
afogou-se em minutos adiantados
Passou, despercebido
Pelo “estar” que estava ao lado.

Deu de topa com o relógio
desmarcado e inconseqüente,
que avisou-lhe, irrisório:
O tempo é pra não ser previdente!

A vida criativa
passou em pulos
em direção ao chafariz.
Ninguém a viu! não percebeu?
Arrebatadora cortina enfim, desceu!

Não me previna! Não me siga!
Não sei onde vou parar!
Eu só sei que, de onde estou
Não tenho hora pra chegar!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Cárcere

Fui até o fim de uma dor pungente
e hoje crio-a dentro de mim
como uma obra ordinária e lúcida.
E ela tem o dever de me mostrar o infinito que é conhecer a si mesmo.

Desta boca obstinada em dar uma sentença para o coração,
saem palavras que se rasgam de tanto saber,
se tornam rígidas -
dão a punição adequada para o meu querer saber demais.

As algemas desta teia enferrujada pelas linhas do tempo,
que teceram nas horas o seu passar e pesar quase absoluto,
são algemas que te prendem junto ao cárcere criado por ti
e que só existem quando pensas que podem elas existir.

Com a fé religiosa de um abade criminoso,
com a engenhosidade de um cientista desprevinido,
com a loucura de um insano curado,
procuras por tua fé, tua engenhosidade e tua loucura
e acharás todas elas, presas no cárcere que criastes.
Mandastes escolher "a dedo" os objetos que o compõe
e trancastes a sete chaves as portas que nem existiam.

sábado, 31 de agosto de 2013

Projeto dialético


Nesta busca estética do nada,
aposto na poesia como realidade do espírito,
numa tese defino o ser no aqui e agora
numa antítese defino aquilo que já não minto.

Busco a síntese num total de ser-não-ser
continuo sendo assim, particular,
solitária, devedora e paciente,
de um universo que insiste em aflorar

Sobre as idéias de um plano consciente
materializo as ações em tom vulgar
leio as linhas e me encontro impaciente
de resposta, de amor, de um luar.

Teorias, vozes impostas, pregação
nego tudo, sem sentido imanente
misturo a razão, a dor e a emoção,
num jogo de palavras inconsciente.

De um livro pode sair pecados
de um corpo intelecto do coração
da postura um andar meio enquadrado
da poesia, infinita sensação.


* Me perdoem, Hegel e Marx, por utilizar vocês como inspiração.